Comentários e o ranking do Oscar-2022
Não há pandemia ou guerra que me impeça de cumprir a minha missão anual de dizer VERDADES sobre o Oscar. Missão está que neste ano só não foi plenamente concluída porque um certo documentário indiano resolveu se esconder em mares onde nem o meu mais pujante barco pudesse achar. Paciência. Azar de “Writting with fire”, que não vai passar pelo crivo da Corneta e nem ficará eternizado no tradicional ranking que fazemos.
Digressões à parte, vamos ao que interessa. O Oscar é no próximo domingo e chegou a hora de escrever algumas coisas. Primeiro é que é um ano bem preguiçoso. Copiaram a receita de sempre e tem lá o filme fofinho, o filme da masturbação de Hollywood, o pseudo independente, a cota do streaming, a cota “estamos sim de olho no que é feito fora dos muros da América”, a cota “fiquei feio/me transformei para chamar sua atenção”, a cota “eu já existia em outra língua, mas me refilmaram porque americano não lê legenda”. Enfim, acho que o bingo esteve todo completo este ano. E sem grandes surpresas. O que tornou o meu trabalho mais fácil porque muita coisa eu já tinha visto.
Dentro dos indicados a melhor filme vê-se claramente que o Oscar está mais medíocre este ano. Tanto que a nota média da categoria divulgada pelo instituto CornetaStats caiu de 8,12 em 2021 para 7,4 em 2022. O que torna perigoso e aumentam as chances de um potencial “Spotlight”, tragédia ocorrida em 2016.
Mas partamos para as análises MINUCIOSAS de cada categoria. E dar os votos que lamentavelmente não serão computados pela Academia.
FILME – O apoio incontestável da Corneta este ano vai para “Drive my car”, o melhor entre os dez concorrentes. Aliás, que ano do Ryusuke Hamaguchi, que entregou dois belos filmes. Além deste, ainda tivemos “Roda do destino”. Ao contrário do Ridley Scott, que, bem, “O último duelo” e “Casa Gucci” estão longe de serem obras de arte.
Mas é preciso ser sincero. Qual a chance de outro filme que obriga americano a ler legenda ganhar num espaço tão curto de tempo, apenas dois anos depois de “Parasita”? Mas não tem problema porque “Ataque dos Cães” seria um Oscar mais do que merecido e é meu segundo preferido. Se a Academia continuar com preconceito com streaming, ainda temos a opção três, “Licorice Pizza”. Se a Academia estiver de regime e/ou não gostar de pizza de alcaçuz, ainda temos o épico “Duna”, outro prêmio que seria bem dado. Também não reclamaria se ganhasse “O beco do pesadelo”, mas aí é o mais longe que eu posso chegar na aceitação. “Coda” já seria esticar a corda demais.
Agora, vamos combinar que “Belfast”, o “Jojo Rabbit” de memórias de infância do Kenneth Branagh em preto e branco não dá. “Amor, sublime amor” é só punhetação de Hollywood. Bem feita, mas só o Spielberg realizando seu sonho. “King Richard” é uma afronta é “Não olhe para cima” um bom discurso que não gerou um grande filme. Ou seja, 40% dos indicados deste ano são potenciais “Titanic”. E isso é muito PERIGOSO.
ATOR – Nada foi melhor nesta lista do que Benedict Cumberbatch. “Ataque dos cães” é uma das melhores atuações da sua carreira. Não seria de todo mal também o Andrew Garfield ou o Denzel Washington ganharem. Javier Bardem e Will Smith já seriam piadas de mau gosto.
ATRIZ – É incrível como todos, a exceção deste que vos tecla, embarcaram no delírio coletivo de que Kristen Stewart é boa atriz. É de chorar e soluçar a princesa Diana dela em “Spencer”. Espero que o Oscar não cometa este erro em uma categoria que devia premiar a Penélope Cruz. Ou pelo menos a Olivia Colman. Mas jamais a Nicole Kidman ou a Jessica Chastain porque os seus filmes são anódinos.
DIRETOR – Jane Campion ainda é a minha favorita. Mas muito perto, ali olhando pelo retrovisor, também acho que o Hamaguchi merecia essa. Paul Thomas Anderson seria a minha terceira via. O resto a gente esquece.
ATRIZ COADJUVANTE – Jessie Buckley, minha gente. O que ela entrega em “A filha perdida” é acima da média. Minha segunda opção seria a Kirsten Dunst por “Ataque dos cães”.
ATOR COADJUVANTE – Gosto da dupla de “Ataque dos cães”, Jesse Plemons e, principalmente, Kodi Smit-McPhee, mas o meu voto aqui vai para Troy Kotsur. Acho que o trabalho dele é o que. “Coda” tem de melhor.
ROTEIRO ADAPTADO – Acho que é a primeira vez que eu de fato já tinha lido a obra pregressa de três dos cinco indicados. A adaptação de “Duna” é ótima, mas ainda é meio “Duna”. Prefiro esperar a segunda parte para ver no que vai dar. “Drive my car”, nem sei o que dizer. Cada vez que eu leio Murakami sempre penso que parece algo tão inadaptável, mas deu muito certo. Mas de todos eles eu ainda fico com “A filha perdida”. Acho que o roteiro da Maggie Gyllenhaal conseguiu captar um pouco da essência dos temas da Elena Ferrante, ainda que me pareça muito esquisito que este filme seja com atores americanos/ingleses e falado em inglês.
ROTEIRO ORIGINAL – Isso nunca irá acontecer, mas se eu tivesse o poder nesta bagaça, em hipótese alguma o prêmio escaparia de “A pior pessoa do mundo”. E se escapasse, iria para “Licorice Pizza”. “King Richard”, “Não olhe para cima” e “Belfast” é tudo engana trouxa.
FILME ESTRANGEIRO – O Oscar de melhor filme deste ano nem se aproxima em nível de qualidade do de filme estrangeiro. Todos os cinco filmes são bons, muito bons ou excelentes. E entre eles, o melhor só podia ser “Drive my car”.
ANIMAÇÃO – Aqui eu fico com “Flee”, embora eu saiba que animação séria e/ou triste ganha um Oscar por década. Foi assim com “Wall-E” em 2009 e “Soul” no ano passado. Então parece que agora só em 2030. Mas se o “Flee” não ganhar, “Luca” me pareceria a melhor opção. Porém, o hype de “Encanto” é forte.
DOCUMENTÁRIO – Direto e reto, meu voto aqui é para “Summer of Soul”. Como é que um festival que teve B;B. King, Stevie Wonder, Sly and the Family Stone e outras lendas ficou assim esquecido na história?
Vamos agora para as categorias técnicas. Aquele momento em que eu mostro toda a minha falta de conhecimento com convicção.
FOTOGRAFIA – “A tragédia de Macbeth”, com “Duna” e “Ataque dos Cães” mais atrás na minha lista de preferências.
MONTAGEM – Quem achou que “King Richard” podia estar aqui tem o mesmo conhecimento de montagem que eu. O filme segue a cartilha basicona de edição em faculdade de cinema. Meu preferido aqui é “Tick, tick…boom!”, o filme que merecia um pouco mais de espaço e tinha vaga na lista de melhores. Com “Ataque dos cães” logo ali em segundo lugar.
TRILHA SONORA – “Duna”, definitivamente. A trilha do Hans Zimmer é absurda de boa. Inclusive este texto foi produzido ouvindo esta trilha sonora.
FIGURINO – “Amor, sublime amor”. Nota-se a qualidade do trabalho no filme. “Duna” seria a minha segunda opção ali bem perto. “Cruella” também chama atenção, pois o figurino é o que tem de melhor neste filme. Porém, não podemos premiar filme meia-boca.
DIREÇÃO DE ARTE – Dos cinco indicados, acho que o que eu mais gostei neste quesito foi o de “O beco do pesadelo”.
CANÇÃO ORIGINAL – Sobre canção original, a regra é clara. Se tem uma música de James Bond, ela é a melhor. Pode levar seu Oscar para casa Billie Eillish.
EFEITOS VISUAIS – Joga o Oscar para o alto e quem pegar levou. Nâo tem nada do outro mundo aqui, sinceramente. Vou votar em “007: sem tempo para morrer” em homenagem ao Daniel Craig.
MAQUIAGEM E CABELO – Eu tinha prometido que filme ruim não podia ganhar Oscar né? Vou ter que quebrar esta regra aqui e dar o meu careca dourado para “Cruella”.
SOM – Ora, ora, ora, mais um careca dourado para “Duna”.
Assim, fazendo a conta de distribuição de carecas dourados, ficamos assim no socialismo do meu Oscar: Duas estatuetas para “Duna”, “Drive my car”, “Ataque dos cães”, “A filha perdida” e “007: sem tempo para morrer”, e mais uma estatueta para “Mães Paralelas”, “Coda”, “A pior pessoa do mundo”, “Flee”, “Summer of Soul”, “A tragédia de Macbeth”, “Tick, tick…boom!”, “O beco do pesadelo”, “Amor, sublime amor” e “Cruella”. Parece justo. Mais justo do que o que o Oscar se avizinha? Medo destes “Spotlights” de 2022.
Para fechar vamos ao sempre polêmico RANKING do Oscar:
1- “Drive my car” (“Doraibu mai kâ”)
2- “Ataque dos cães” (“The Power of the dog”)
3- “A pior pessoa do mundo” (“Verdens verste menneske”)
4- “A filha perdida” (“The lost daughter”)
(Os filmes acima estão classificados para a Copa Libertadores)
5- “Licorice Pizza” (“Licorice Pizza”)
6- “Duna” (“Dune: part 1”)
7- “A tragédia de Macbeth” (“The tragedy of Macbeth”)
8- “Summer of Soul” (“Summer of Soul”)
9- “Homem-Aranha: sem volta para casa” (“Spider-man: no way home”)
10- “A mão de Deus” (È stata la mano di Dio”)
11- “Mães Paralelas” (“Madres Paralelas”)
12- “Tick, tick…boom!” (“Tick, tick…boom!”)
(Os filmes acima estão classificados para a Copa Sul-Americana)
13- “Flee” (“Flugt”)
14- “O beco do pesadelo” (“The nightmare alley”)
15- “Attica” (“Attica”)
16- “A felicidade das pequenas coisas” (“Lunana: a yak in the classroom”)
17- “007: sem tempo para morrer” (“No time to die”)
18- “Coda – no ritmo do coração” (“Coda”)
19- “Luca” (“Luca”)
20- “Belfast” (“Belfast”)
21- “Shang-chi e a lenda dos dez anéis” (!Shang-chi and the legend of ten rings”)
22- “Encanto” (“Encanto”)
23- “Não olhe para cima” (“Don´t look up”)
24- “Ascensão” (“Ascension”)
25- “Amor, sublime amor” (“West side story”)
26- “A família Mitchell e a revolta das máquinas” (“The Mitchells vs The Machines”)
27- “Spencer” (“Spencer”)
28- “Casa Gucci” (“House of Gucci”)
29- “Raya e o último dragão” (“Raya and the last dragon”)
30- “King Richard: criando campeãs” (“King Richard”)
31- “Free Guy” (“Free Guy”)
32- “Apresentando os Ricardos” (“Being the Ricardos”)
33- “Um príncipe em Nova York 2” (“Coming 2 America”)
(Os filmes abaixo foram rebaixados para a segunda divisão)
34- “Cyrano” (“Cyrano”)
35- “Cruella” (“Cruella”)
36- “Os olhos de Tammy Faye” (“The eyes of Tammy Faye”)
37- “Four good days” (“Four good days”)